Priscila Luz e Armando Lauria Jr. não se conhecem, mas do trabalho dela depende muito o dele. Ela é meteorologista da equipe de dez funcionários do Sistema Alerta Rio da Prefeitura do Rio, mantido pela Fundação Geo-Rio, órgão da Secretaria Municipal de Obras. Ele é um dos sócios da Vesúvio Comércio e Indústria de Guarda-Chuvas Ltda, tradicional fabricante e varejista também de guarda-sóis e barracas de praia. Priscila lida com o tempo e Armando com varetas, panos, cabos e empregados.
Do Alerta Rio saem boletins de aviso à população sobre a chegada de chuvas intensas que possam gerar inundações de vias públicas ou deslizamentos em encostas. Armando consulta há seis anos o Sistema, na página www.rio.rj.gov.br/alertario, para, conforme as previsões, saber o que vai oferecer ao mercado.
O Sistema Alerta Rio, criado em setembro de 1996, funciona 24 horas, com 32 estações medidoras de chuvas espalhadas pela Cidade, que enviam via rádio, em tempo real, as medições para processamento na central computadorizada da sede da Geo-Rio, em São Cristóvão. No monitoramento são utilizadas também imagens do radar meteorológico do Comando da Aeronáutica, imagens de satélites (pela internet) e dados da Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas Atmosféricas (Rindact), que mostra onde estão caindo raios.
Certamente através do Alerta Rio muitas vidas já foram salvas pelos avisos transmitidos pelo rádio, televisão ou internet. Na iminência de chuvas fortes, recomenda-se que os habitantes de áreas de risco, em encostas e regiões sujeitas a alagamentos, procurem imediatamente locais seguros e evitem as vias urbanas que atravessam montanhas. Quem estiver em lugar seguro deve permanecer lá, até a melhoria do tempo.
O alerta é dado sempre que o acumulado de chuvas atinge níveis críticos. Na última chuva torrencial, que começou na noite de 23 de outubro passado, a média histórica do mês, segundo os dados do Alerta Rio, ficou em 173,07 mm - índice 70% acima da marca de 105,5 mm, que costuma ocorrer normalmente nessa época do ano. Os temporais puseram fim à pior seca dos últimos dez anos, que os cariocas enfrentaram no bimestre setembro-outubro.
Priscila Luz, de 26 anos, formada em meteorologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está no Alerta Rio desde 2004, onde começou ainda como técnica. No temporal de outubro, diante dos dados e do alerta transmitido às emissoras de rádio e televisão e órgãos públicos, foi a primeira a agir. Após a emissão do aviso, conta, desceu do prédio da Geo-Rio e levou seu carro, que estava na rua, para a garagem. O entorno do Campo de São Cristóvão, onde trabalha, sempre enche quando chove forte e a garagem fica em nível acima da rua. Priscila ficou esperando a água baixar até meia-noite, quando então foi para casa.
- Quando é dado o alerta, aviso logo aos meus familiares para se prevenirem. Minha avó, que mora numa casa, corre e tira as roupas da corda. Aviso também aos meus irmãos para saírem mais cedo do trabalho ou ficarem por lá, porque vai chover forte - ensina.
Armando Lauria Jr., o fabricante de guarda-chuvas e barracas de praia, que também vende capas de chuva e cadeiras de praia (tudo conforme o tempo), consulta todos os sites meteorológicos. Precisa estar antenado, porque os clientes fazem as encomendas literalmente de olho nas previsões meteorológicas. É o caso de companhias aéreas, que pedem guarda-chuvas com 15 dias de antecedência da entrega, mas se a indicação for de mudança de tempo para sol e calor suspendem o pedido. “Houve um verão chuvoso”, diz, “em que as fábricas de biquínis reclamaram dos prejuízos”.
Além da população em geral e das empresas aéreas, a clientela de Armando são os hotéis e restaurantes, que pedem guarda-chuvas e guarda-sóis com logotipos das empresas. Tudo é feito pela Vesúvio na Rua da Carioca, em uma das últimas fábricas que ainda resistem no Centro.

Armando é, assim, um dos seis milhões de habitantes da Cidade que usam as informações do Alerta Rio. Ele e Priscila - conforme o comportamento da estação - preocupam-se mais no verão, com as chuvas que podem vir ou não. É verdade que, se houver seca, a preocupação dela é bem menor. Mas se houver chuvas fortes e contínuas, a trabalheira é para os dois. Armando aumenta a produção de guarda-chuvas. O Alerta Rio redobra de atenção e emite os boletins de alerta de chuvas ou de deslizamentos, quando necessário. O problema de Armando é a concorrência dos guarda-chuvas que chegam da China a R$ 5,00, no máximo R$ 10,00, mas com pouco tempo de uso se desmancham, enquanto os seus custam de R$ 29,00 a R$ 49,00. As barracas de praia variam de R$ 37,00 a R$ 45,00.
Segundo o industrial fica difícil competir,
até porque ele próprio tem de
importar da China hastes de fibra de carbono para
fabricar seus produtos. “O Brasil não
faz essas hastes”, diz, lamentando a falta
de apoio governamental para esse fim.
Apesar disso, ele continua seu trabalho, quase de
resistência e sempre consultando o Alerta
Rio.
Texto:
Luís Carlos de Souza (Assessoria de Comunicação
Social Geo-Rio)
Fotos: Alberto Jacob (SECS)