Saúde

 


As crianças que utilizam os serviços do Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto, na Ilha do Governador, são beneficiadas por um projeto pioneiro e criativo que há 11 anos alivia, e muito, o estresse causado pelo período pré-cirúrgico. É o Projeto Bonecos Terapêuticos, que já beneficiou mais de 19 mil pequenos pacientes com reuniões nas quais as crianças são informadas, de maneira bem humorada e em linguagem compreensível, sobre a doença que elas têm e de que maneira serão tratadas.

O projeto foi inspirado na pequena Aparecida, uma paciente de cinco anos que permaneceu internada por um longo período e compartilhava sua experiência com as outras crianças internadas, realizando “cirurgias” em sua boneca. Portadora de distrofia de bexiga, a pequena voluntária faleceu, após 39 dias de internação, e não pôde ver o sucesso de sua idéia.

De acordo com a criadora e coordenadora do projeto, a psicóloga Lucy Afonso, que também chefia a seção de Saúde Mental do hospital, os bonecos foram elaborados e adaptados de acordo com a necessidade e possibilidade de criação.

- Hoje temos bonecos que, por exemplo, tomam soro, tiram sangue, operam o coração, amídalas, hérnia inguinal, fimose e hidrocele, além de bonecos com cateter e dentes para tratamento odontológico – disse, acrescentando que, através desses bonecos, as crianças visualizam os órgãos internos.

Os primeiros bonecos criados por Lucy foram Mariazinha (hérnia inguinal), Chiquinha (fenda lábio-palatal, amídalas e adenóide) e Joãozinho (fimose e demais patologias do aparelho genital). Já a primeira boneca fantoche recebeu o nome de Maria Rita. A personagem é representada pela fonoaudióloga Cynthia De Biasi. A boneca já foi “operada” no hospital, diz saber tudo sobre as cirurgias e ensina como perder o medo.


Em seguida, vieram Margarida (que tem medo de operar as amídalas), Kiko (que opera fimose e orelha de abano) e Rafael (fimose). O medroso boneco Rodolfo Augusto, um dos mais queridos pelas crianças, é representado pela fisioterapeuta voluntária Cátia Araújo. Durante as reuniões ele fala sobre as cirurgias que vai fazer e serve de paciente para que as crianças o operem. Cátia ressalta a importância do projeto.

- As crianças desenvolvem o interesse em saber pelo que vão passar, perdendo, assim, o medo do desconhecido. E as reações são positivas, pois, além de estarem seguros para a cirurgia, se transformam em agentes multiplicadores do que aprenderam, tirando o medo.

Com o objetivo de tranqüilizar ainda mais as crianças, as reuniões também são abertas aos pais, que na maioria dos casos ficam mais nervosos do que os filhos. Jurema dos Santos Menezes, de Saracuruna, defende a iniciativa.

- Este trabalho esclarece não só as crianças, como os pais. E tira a fama de “bicho-papão” das cirurgias, pois trata do assunto de uma forma simples, nos deixando mais calmos.



A auxiliar de serviços gerais Maria José Fidelis, mãe de Jonathan, só se tranqüilizou ao ver o filho perder o medo da cirurgia de adenóide após assistir à reunião e “operar” Chiquinha.



- Meu filho ficou muito assustado quando passamos pelo centro cirúrgico e ouvimos choros de crianças. Ele ficou desesperado, achando que a cirurgia seria a sangue frio. Mas, durante a reunião, ele ouviu como seria, se acalmou e perdeu o medo.


- Na primeira vez que minha mãe falou que eu ia operar fiquei cheio de medo, pensando que a anestesia ia doer. Na reunião, fiz na Chiquinha a mesma cirurgia que vou fazer. Perdi o medo e ainda fiquei muito feliz em saber que tomarei muito sorvete para me recuperar mais rápido – comemorou Jonathan.


A integração entre as crianças e os bonecos é tão grande que, após a cirurgia, voltam para contar aos bonecos como foi a operação. Muitas delas chegam a telefonar para o hospital para conversar com os seus “amiguinhos”. E é nessa hora que a veia artística dos profissionais vem à tona. Para não decepcionar as crianças, eles interpretam os personagens ao telefone. Antes, precisam manusear os fantoches para incorporá-los, pois, segundo eles, os bonecos “têm vida própria”.

Um dos pontos mais significativos da reunião é quando o boneco Rodolfo Augusto recebe a sapatilha mágica, que tem a fama de proteger as crianças durante a cirurgia. Juntamente com a coordenadora do projeto, Lucy Afonso, Rodolfo diz as palavras mágicas: “Assim como este sapatinho mágico está protegendo todo o meu pezinho, assim também Papai do Céu está protegendo todo o meu corpinho. Com Papai do Céu protegendo a cirurgia, só pode dar certo”.

Lucy lembra com satisfação que, certa vez, uma menina chegou à enfermaria da cirurgia “toda faceira”, como se fosse para uma festa. Ao ser indagada pela enfermeira, comentou com ar de satisfação que ia operar hérnia e colocaria o “sapatinho mágico”.

Devido ao sucesso da iniciativa, os bonecos estão sendo solicitados em outras unidades de saúde. O projeto está sendo realizado, em caráter experimental, com crianças portadoras de Leucemia no Hospital da Lagoa, na Zona Sul da Cidade, e com paciêntes da unidade coronariana do Hospital das Laranjeiras. Além disso, o Hospital Regional de Araruama, na Região dos Lagos, utiliza um dos fantoches de Lucy, que tem próteses dentárias, para auxiliar no Projeto Sorriso Feliz.

As reuniões com os Bonecos Terapêuticos acontecem às segundas-feiras, das 9h30 às 10h30, na Estrada do Caricó 28, Ilha do Governador. Mais informações podem ser obtidas através do telefone 3393-2029 ou pelo e-mail hmnsloreto@rio.rj.gov.br.

 

Texto: Flávia David (SECS) e Mariana Portela (estagiária da SECS)
Fotos: Nelson Duarte (Assessoria de Comunicação da SMS)

 

 

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