Um
espaço cedido pela Prefeitura do Rio na Praça
da Concórdia, quatro computadores e a vontade de
incluir jovens e adultos da comunidade do Jacarezinho na
era da informática. Assim começou, em 2002,
o Café Internet da Célula Urbana, sob a coordenação
dos jovens Ramon Rodrigues e Fábio Tavares. Cinco
anos depois da implementação do projeto, a
dupla avalia as mudanças ocorridas durante esse tempo.
No
início, o Café Internet dispunha apenas das
máquinas doadas pela ONG Magna Grécia. Hoje,
abriga 19 computadores com webcam, fones de ouvido e microfone,
cinco funcionários e muita disposição
de ajudar os moradores da comunidade. “Nós
trabalhamos aqui para educar as pessoas, ensinar a mexer
no computador, fazer trabalhos, navegar na internet, enfim,
integrar todos à realidade virtual que o mundo permite
nos dias de hoje”, explicou Ramon.

Implantar e fazer funcionar a internet em uma comunidade
pobre era um desafio. Cinco anos depois, existe no Jacarezinho
uma rede de lan houses implantadas a partir do Café
Internet. O que é motivo de orgulho para Ramon: “Nós
criamos uma revolução aqui dentro”.
A
concorrência das lan houses não reduziu o movimento.
O Café Internet recebe de 80 a 100 pessoas por dia,
que aproveitam o preço atraente - R$1,00 por meia
hora de acesso. É o caso da estudante Gerciane Dias
de Oliveira, 18 anos, freqüentadora desde a inauguração.
“Uso a internet para pesquisas e trabalhos, mas também
para conversar com minha irmã que mora em São
Paulo. O preço bom permite que eu venha três
ou quatro vezes por semana”, disse.
Outro
freqüentador assíduo é o mecânico
Antônio Pedro Lima, 45 anos, que ainda vive a fase
da novidade. “Não sabia mexer no computador
e estou dando os meus primeiros passos agora”, contou.
Para Antônio, navegar na internet “é
melhor do que ficar na rua sem fazer nada”.
Acesso
gratuito para as crianças durante as manhãs
Para
garantir acesso das crianças do Jacarezinho
às novas tecnologias, o Café Internet
implantou um esquema de gratuidade. Quem está
na faixa etária de 7 a 13 anos e comprova a
freqüência à escola tem direito
a meia hora de acesso gratuito, na parte da manhã.
“Nós percebemos que as crianças
não querem só jogar, elas querem aprender
também. Isso é bom”, comentou
Ramon.
Jéssica
Oliveira Nogueira, 10 anos, aproveita o acesso livre
para fazer os trabalhos da escola. “Venho todos
os dias para pesquisar, mas também entro nos
sites de desenho quando tenho tempo livre”,
disse com desenvoltura de internauta veterana.
|
Escolinha de informática insere jovens
carentes na sociedade
Baseados
na experiência do Café Internet, Fábio
Tavares e Ramon Rodrigues resolveram criar uma escolinha
para ensinar informática de graça às
crianças mais carentes do Jacarezinho. “Já
que nós temos conhecimento, por que não ensinar
àqueles que precisam”, disse Fábio,
que trabalha com computadores há dez anos.
A
escolinha atende a cerca de 100 alunos, na faixa de 7 a
12 anos. Eles têm em comum problemas de desagregação
familiar ou pais ausentes. Em sete computadores e com aulas
todos os dias, turmas de dez crianças aprendem montagem
de computadores e o manejo do Windows. Dois professores
e dois voluntários se revezam no ensino.
Para
que a escolinha deslanchasse, foi necessário superar
um problema: muitas das crianças não sabiam
ler. “Então, eu busquei na internet material
que envolvesse a criança e ao mesmo tempo ensinasse.
Consegui muitas coisas legais de pré-alfabetização,
programas em inglês e até jogos educativos”,
disse Fábio, entusiasmado com o êxito da experiência.
O
curso tem grande procura entre as crianças do Jacarezinho.
“Quando existem vagas disponíveis, procuro
divulgar no boca-a-boca. Senão, no dia seguinte forma
uma fila”, afirmou Fábio. “É gratificante
saber que um projeto social numa comunidade tem grande retorno.”
Projetos
são classificados na qualidade de
Boas Práticas da ONU
A
Prefeitura do Rio inscreveu, através da Assessoria
Especial Célula Urbana, o Projeto Centro de
Informática e Café Internet no Prêmio
de Melhores Práticas para a Melhoria da Qualidade
de Vida em áreas de pobreza, promovido de dois
em dois anos pela ONU-Habitat. Em 2006, no encontro
de Dubai, nos Emirados Árabes, os projetos
foram classificados na qualidade de Boas Práticas
entre 715 concorrentes internacionais.
A
ação desenvolvida no Jacarezinho passou
a constar do banco de dados das Boas e Melhores Práticas,
num universo de 2.700 projetos existentes desde 1996.
O prêmio deu maior visibilidade e conhecimento
internacional às atividades promovidas na comunidade.
E aumenta as possibilidades de que, no próximo
concurso, o projeto do Jacarezinho eleve sua classificação
na categoria das Melhores Práticas do Mundo.
|
|