Cultura

As comemorações pelos 200 anos de chegada da Família Real à Cidade do Rio de Janeiro estão incentivando nos cariocas dois grandes prazeres: boa comida e boa leitura. Com o apoio da Prefeitura, o Circuito Copa Gourmet reuniu 20 restaurantes da orla de Copacabana e Leme, que elaboraram cardápios especiais para dar a seus clientes um gostinho do século XIX. Ao mesmo tempo, uma série de livros, lançados por diferentes editoras, oferece uma ampla releitura do período joanino.

No Circuito Gourmet, os restaurantes que participam do “banquete” ofereceram durante o mês de junho a série Culinária Joanina, inspirada nas delícias que faziam a cabeça da Corte portuguesa. A iniciativa fez com que a Prefeitura do Rio incluísse o evento no calendário oficial de eventos pelo bicentenário. Além disso, com o apoio da Subprefeitura da Zona Sul, foram realizados shows instrumentais no calçadão.

Os restaurantes incluídos no Circuito – que vai até janeiro de 2009, com cardápios para todos os gostos – são: La Fiorentina, Miss Tanaka, Don Camillo, Sindicato do Chopp (filiais do Leme e de Copacabana), Taberna Atlântica, Mab’s, Balcony Bar e Café, Maxim’s, Rondinella, Deck, Espuma na Pressão, La Maison, Mondego, Transa, Meia Pataca, Alcazar, Garota de Copacabana, Pigalle e Imperator. Para reconhecer imediatamente os participantes do Circuito, basta conferir a entrada: as varandas externas desses estabelecimentos foram padronizadas pelo arquiteto André Piva e o estilista Carlos Tufvesson, que substituíram os tradicionais “ombrelones” por grandes toldos brancos, cuja borda reproduz o grafismo do calçadão de Copacabana, o mais famoso do país. Mais detalhes sobre o Circuito estão disponíveis pelo telefone (21) 2512-3636.

No entanto, para quem tem “fome” de saber mais sobre esse período da história brasileira, a Prefeitura está lançando, em parceria com diferentes editoras, livros que contam fatos e curiosidades sobre a vinda da Corte Portuguesa. A começar pela viagem: em setembro de 2007, a parceria com a Editora José Olympio relançou o livro A Vinda da Família Real para o Brasil, do inglês Thomas O’Neil, que acompanhou D. João VI e os nobres portugueses durante toda a viagem, desde Lisboa até seu destino final em terras cariocas. Na mesma linha está o livro A Viagem Marítima da Família Real, do pesquisador inglês Kenneth Light, lançado em março deste ano com a Editora Zahar, que remonta detalhes da travessia pelo Oceano Atlântico.

Sobre a transição do poder e as disputas políticas da época, é possível aprender mais lendo Carlota Joaquina: Cartas Inéditas, organizado por Francisca Nogueira de Azevedo e publicado em outubro do ano passado, em parceria com a Editora Casa da Palavra. Temas mais amenos são abordados em duas outras publicações: O Jardim de D. João, de Rosa Nepomuceno, também pela Casa da Palavra, sobre o Jardim Botânico e outras instituições científicas criadas pelo então Príncipe Regente; e A Saúde Pública no Rio de D. João, pela Editora Senac Rio, que mostra a evolução sanitária e médica vivida pela cidade com a “invasão” de nobres europeus na sociedade local.

Aproveite o friozinho do inverno para conferir as opções gastronômicas, compre um dos livros e faça essa viagem ao passado...


Saiba mais sobre os livros já lançados

A Vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil - Um pequeno e precioso livro publicado em Londres em 1810 e que só agora ganha, pela editora José Olympio, uma edição brasileira. É um relato detalhado e vivo de uma viagem que, nas palavras do autor, foi planejada “devido ao brutal e implacável espírito de domínio que tomou conta da mente demoníaca do arquiinimigo do mundo, Bonaparte”. Do embarque no cais de Belém, em Lisboa, à chegada e permanência no Rio de Janeiro, o texto não deixa de lado as descrições das paisagens e do povo que recepcionaram D. João VI e sua Corte. Além de testemunho importante de um momento histórico que mudou o Brasil, a obra de O’Neil é também um livro de aventuras – uma aventura que começa e termina com fatos e personagens que não estão em suas páginas, mas que Lília Moritz Schwarcz evoca ou recorda no excelente ensaio introdutório que escreveu para esta edição.
Carlota Joaquina: Cartas Inéditas - Apresenta a correspondência de uma das mais polêmicas personagens da história brasileira. As 145 cartas inéditas revelam uma mulher diferente daquela que a historiografia costuma apresentar de maneira tão estereotipada. Carlota Joaquina tem sua atuação reconstruída neste livro e torna-se a porta-voz de uma trajetória marcada por intensa ação política. Sua vida é passada a limpo através do diálogo que estabeleceu com os pais e irmãos espanhóis, com D. João VI e seus filhos e com os principais articuladores de um período em que o furacão Napoleão Bonaparte virava do avesso o cenário europeu e as colônias espanholas na América ensaiavam o movimento de independência.
O Jardim de D. João - Uma parceria da Dona Rosa Produções, a Casa da Palavra e o Jardim Botânico, percorre quatro partes temáticas e cronológicas. A primeira, “O jardim das especiarias” trata dos primeiros plantios, conquistas, aventuras, lendas e mitos. O plantio do Oriente chegou com força total, e o Brasil tentou se transformar num pólo do chá. A pesquisa da autora revela que dos primeiros plantios ainda existem mangueiras, jaqueiras, canforeiras, longanas e andirobas. A segunda parte, “Jardim de glórias e sombras”, trata dos personagens – imperadores, viajantes, políticos, curiosos e “gafanhotos” (público que foi, aos poucos, acabando com as árvores de especiarias, arrancando folhas e frutos). A terceira, "Os anos de ouro”, apresenta aos leitores Barbosa Rodrigues, diretor na virada do século XIX para o XX e o responsável pelo relato mais importante e por uma gestão bem-sucedida da história do Jardim Botânico. Nestes anos também se concentram os grandes botânicos. A quarta e última parte abrange ciência e sociedade. As pesquisas no jardim se intensificaram e profissionais de instituições científicas se debruçaram sobre descobertas. A vocação cultural também foi revalorizada, o que repercutiu na cidade e no investimento de parcerias com novas empresas.
A Saúde Pública no Rio de Dom João - É uma reedição de dois textos. Manuel Vieira da Silva é o autor do primeiro texto: “Reflexões sobre alguns dos meios propostos por mais conducentes para melhorar o clima da cidade do Rio de Janeiro”. Considerado o primeiro livro médico publicado no Brasil, o texto foi encomendado pelo próprio D. João VI, que desejava averiguar as causas das doenças que assolavam a cidade na época. Publicado em 1820, o segundo texto é de autoria de Domingos Ribeiro Guimaraens Peixoto, o Barão de Igarassú. O autor defende a relevância da higiene, mais importante que a terapêutica na sua concepção. O título da obra segue a tendência da época. É comprido e bajulador: “Aos Sereníssimos Príncipes Reaes do Reino Unido de Portugal, do Brazil e do Algarves, os senhores D. Pedro de Alcântara e D. Carolina Josepha Leopoldina, offerece em signal de gratidão, amor, respeito e reconhecimento estes prolegomenos, dictados pela obediência, que servirão às observações que for dando das molestias cirurgicas do paiz em cada trimestre, etc.”. O texto é considerado por Moacyr Scliar como extremamente representativo da mentalidade médica então vigente.
A Viagem Marítima da Família Real - O autor Kenneth Light recolheu material por uma década e, depois de muito procurar, encontrou, no Arquivo Nacional da Inglaterra, os diários de bordo das naus britânicas. Encomendou ainda ao inglês Geoff Hunt RSMA um quadro com a imagem da chegada da esquadra ao Rio, feito especialmente para a publicação. Como foi a travessia dos Orleans e Bragança de Portugal para o Brasil? D. João e Carlota Joaquina vieram na mesma embarcação? O que se comeu? Como era o dia-a-dia? Como se media o tempo? Qual era o número de marinheiros empregados e o soldo correspondente? Como se organizavam os navios? Todos esses detalhes aparecem no livro e ajudam a compor um quadro mais vivo dessa longa viagem.


Texto:

Flávia David (SECS)
Karine Fonte (SECS)
Caroline Paiva (SMC)

Fotos: Divulgação/SMC
Ayrton/Espaço Z


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