Criado há um ano na Escola Municipal
General Tasso Fragoso (Rua Marechal Marciano, s/nº),
em Padre Miguel, o Projeto Construindo Pontes oferece a alunos
com algum tipo deficiência mental uma proposta de ensino
alternativo, inserindo no currículo básico oficinas
de criação. Participam do projeto 16 jovens,
divididos em duas turmas, utilizando as oficinas de massas
criativas, reciclagem, biscuit, e estamparia, além
de dança e teatro. A iniciativa também possibilita
que jovens, antes vistos como improdutivos, possam ser inseridos
no mercado de trabalho formal e informal.
A
idéia de trabalhar com esses jovens de forma mais dinâmica
surgiu quando a professora Rosemeire Couto participou do curso
de inclusão de portadores no Instituto Helena Antipoff,
da Secretaria Municipal de Educação. A Escola
Municipal possui turmas especiais há cinco anos, porém,
os estudantes não tinham atividades complementares
específicas. As oficinas, que já existiam, foram
adaptadas e inseridas na grade, aumentando a abrangência
do programa e profissionalizando os estudantes.
A
primeira oficina criada foi a de massas criativas, que ensina
a fazer biscoitos. Lá, os alunos também aprendem
a contar, identificar as letras, ter noções
de quantidade e trabalhar a coordenação motora.
Devido à grande produção de biscoitos,
veio a necessidade de criar embalagens. Assim foi criada a
oficina de reciclagem, aproveitando as garrafas PET e jornais,
para fazer potes e cestas. Essas embalagens são decoradas
com biscuit, produzidos pelos próprios alunos, que,
através das atividades, aprendem também as datas
comemorativas, explorando-as na temática dos enfeites.
Através
de um concurso promovido pela Escola, a turma começou
a desenvolver a oficina de estamparia e concorreu com alunos
de turmas regulares. Venceram com a estampa “Ser diferente
é normal”. Segundo a professora Rosemeire Couto,
isso foi importante para a auto-estima dos jovens. “Eles
se sentiram integrados com a Escola e através das estampas
criaram uma identidade de grupo”. Depois do concurso
a produção continuou e a turma criou a camiseta
dos Jogos Inclusivos, realizados pela Secretaria Municipal
de Esporte e Lazer.
Os alunos que apresentam um melhor evolução
nas oficinas tornam-se professores, ganhando assim mais segurança
para vivenciarem a solidariedade. Para maioria deles a comunicação,
já é difícil por si e pelo preconceito
sofrido. Regina Célia, mãe da estudante Iara,
acredita que para ultrapassar a barreira do preconceito é
preciso compreensão. “Esses jovens são
muito capazes, mas falta-lhes oportunidade e respeito aos
seus limites.
Algumas mães que acompanharam o desenvolvimento dos
filhos, se organizaram na produção de biscoitos
e camisas, estimulando os jovens a trabalharem em casa. Assim,
elas promovem encontros semanais para organizar a distribuição
das encomendas e arrecadar doações de material.
Outra forma de obtenção de renda são
as feiras de artesanato onde vendem o que é produzido.
Os alunos também organizam lanches em reuniões.
A renda das oficinas é utilizada para comprar materiais
e gerar um salário para os alunos, que varia de acordo
com as encomendas.

A oportunidade de estar aprendendo uma atividade deu aos alunos
respeito e orgulho próprio. A aluna Ana Carolina Santos,
de 18 anos, conta sua experiência: “Minhas amigas
me chamavam de burra porque eu não sabia ler nem escrever.
Agora eu sei e passo por elas e nem ligo, porque eu tenho
valor por mim”. E fala dos planos para o futuro. “Quando
sair daqui quero fazer um curso de professora para dar aulas
para crianças, ensinando a ler e a escrever”.
A
Escola Municipal General Tasso Fragoso planeja para esse ano
alcançar maior abrangência com o projeto. A turma
pretende aumentar a produção incluindo os sabores
chuvisco e cebola. A iniciativa do projeto, mais do que ensinar
aos jovens uma profissão, garante que exercitem a cidadania,
mostrando à sociedade seu potencial e abrindo caminhos
para novas oportunidades para os portadores de alguma deficiência
mental.
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