
Amor, carinho e atenção. Com esses ingredientes,
o programa Família Acolhedora já beneficiou 2.651
crianças e adolescentes de 0 a 17 anos e 11 meses. Todos
eram vítimas de violência doméstica e viviam
em situação de vulnerabilidade e risco social.
Desenvolvido desde 2000 pela Secretaria Municipal de Assistência
Social (SMAS), o programa conta com a parceria da Vara da Infância,
da Juventude e do Idoso e, principalmente, a solidariedade das
famílias que acolhem em suas casas, por um período
de tempo determinado, meninos ou meninas que vinham sofrendo algum
tipo de violência em sua própria família.
Durante o período de acolhimento, assistentes sociais e
psicólogas da equipe técnica do programa organizam
encontros entre as famílias biológicas e as acolhedoras.
A reunião é componente fundamental do objetivo máximo
do programa: a reintegração familiar. Ao longo de
oito anos de existência, 95% das crianças e adolescentes
acolhidos retornaram aos lares de origem.
Outro aspecto importante do Família Acolhedora é
a desinstitucionalização. Metade das crianças
e adolescentes atendidas veio de abrigos. No programa, a convivência
em ambiente familiar é priorizada, com ênfase no
atendimento singularizado dos beneficiários.
Antes de se tornarem acolhedoras, as famílias passam por
um processo de seleção que inclui entrevista e visita
domiciliar, além da capacitação. As famílias
aprovadas em todas as etapas recebem uma bolsa auxílio
mensal, que varia de acordo com a faixa etária dos acolhidos:
crianças de 0 a 6 anos, R$ 350; de 7 a 14 anos, R$ 450;
e adolescentes de 15 a 18, R$ 600.
Desde que foi criado, o programa teve a participação
de 751 famílias. Atualmente, 246 crianças e adolescentes
são atendidos por 139 famílias acolhedoras e 133
famílias de origem recebem acompanhamento.
A dona-de-casa Denise Hesketh de Brito, de 44 anos, é um
exemplo de amor materno. Mãe biológica de dois jovens,
ela já acolheu na sua casa, em Jacarepaguá, Zona
Oeste da cidade, 27 crianças. Denise foi uma das pioneiras:
“Logo que tomei conhecimento do programa, não
hesitei em procurar saber como poderia ser uma acolhedora”.
A casa de Denise é só alegria e festa. Hoje, ela
cuida de duas crianças, Carlos, de 3 anos, e Alessandra,
de 2. “Fico muito feliz com o que eu faço,
tenho um enorme prazer. Se todos ajudarem um pouquinho de alguma
forma, daremos um futuro melhor a essas crianças tão
carentes de amor”, afirma.
Mas não são só as mulheres que têm
a iniciativa de acolher crianças em situação
de risco social. No caso de Roberto e Valda Martins, moradores
do Rio Comprido, na Zona Norte, foi ele quem tomou a dianteira.
Desde 2007 no programa, o casal já recebeu seis crianças
em sua residência. Desse total, cinco ainda dividem com
os quatro filhos do casal o carinho, a atenção -
e os três beliches comprados para acomodar todos.
“Acho que devemos fazer algo. Vemos tantas crianças
nas ruas e muita gente só gasta dinheiro em supérfluos.
É muito mais importante dirigirmos nossas forças
para elas. Se cada família do Rio acolhesse uma criança,
mesmo que por pouco tempo, resolveríamos muitos problemas
da cidade”, propõe Roberto.

Solange Soares, de 33 anos, moradora de Copacabana, acaba de ingressar
no Família Acolhedora. Com apoio do marido e dos filhos,
Camile, de 5, e Caio, de 8, ela se candidatou e foi selecionada.
Depois de passar pela capacitação, recebeu como
primeira missão um bebê de 4 meses. “Com
o trabalho de vendedora autônoma, posso fazer meu horário
e dedicar bastante tempo para os acolhidos”,
diz.
Mesmo sendo “apaixonada por crianças”,
Solange alerta que apenas amor não basta para ser uma acolhedora.
“É preciso ter paciência e muito
carinho para dar. O Família Acolhedora é doação
e vontade de ver uma criança crescer com um futuro bem
melhor”, conclui.
Mulheres e homens solteiros também podem ser acolhedores.
Para isso, precisam ter disponibilidade de tempo, idade entre
24 e 65 anos, boa saúde e garantir a freqüência
escolar do acolhido. Além disso, é preciso que o
interessado não esteja respondendo a inquérito policial
ou envolvido em processo judicial, não apresente problemas
psiquiátricos e tenha residência fixa no município
do Rio.
Os interessados em participar do programa devem marcar entrevista
pelo Tele-Família Acolhedora (2293-6479) de segunda a sexta-feira,
das 9h às 18h.
Perfil
dos atendidos
Motivo
do acolhimento
33% negligência.
27% violência doméstica.
22% violência risco social ou pessoal.
14% violência por abandono.
4% outros
Famílias
de origem
66% dos pais estão desempregados e apenas
3% têm trabalho com carteira assinada
31% trabalham no mercado informal
64% têm renda familiar inferior a um salário
mínimo
Famílias
acolhedoras
Residência:
47% Zona Norte
46% Zona Oeste
7% no Centro e na Zona Sul
Renda familiar: dois a seis salários mínimos.