Com
a proximidade dos Jogos Parapan-Americanos, que serão
realizados no Rio de 12 a 19 de agosto, as atenções
se voltam para as lições de vida dadas por aqueles
que, superando as limitações da deficiência
física e o preconceito social, conseguem a façanha
de se tornar atletas. Esses exemplos notáveis de perseverança
na superação de adversidades encontram amplo
apoio da Prefeitura, que mantém uma política
voltada para a inclusão social de pessoas com deficiência
por meio do esporte.
Em
2001, com a Resolução nº 25, a Secretaria
Municipal de Esportes e Lazer (SMEL) definiu as normas que
orientariam as ações de inclusão. Hoje,
seis anos depois, as Vilas Olímpicas e centros esportivos
municipais contam com profissionais capacitados para o acompanhamento
dos alunos especiais. O objetivo é torná-los
aptos a participar de atividades junto com alunos não
deficientes.
O
processo de inclusão é feito em etapas. Na chegada
à Vila Olímpica ou centro esportivo, o aluno
passa por uma avaliação fisioterápica
e de coordenação motora, para que se determine
o grau de comprometimento físico e mental. Em seguida,
os pais ou responsáveis são entrevistados. A
partir daí, os professores dispõem de elementos
para decidir se o aluno necessita de trabalho isolado ou coletivo;
em turmas de alunos com deficiência ou sem; ou em turmas
mistas.
Segundo
dados da SMEL, cerca de 4.000 pessoas com deficiência
estão matriculadas nos equipamentos esportivos do Município.
Além de desenvolver atividades físicas, todos
participam de atividades socioeducacionais adaptadas, que
estimulam a auto-estima. Essa fase do trabalho visa transformar
valores equivocados que estigmatizam a pessoa com deficiência
como incapaz e doente.
Outro
equipamento municipal que oferece serviço de ponta
às pessoas com deficiência que praticam esportes
é o Centro Integrado de Atenção à
Pessoa Portadora de Deficiência (CIAD), que mantém
ampla rede de serviços em parceria com as secretarias
municipais de Saúde, Trabalho e Emprego, Educação,
Assistência Social e Deficiente-Cidadão. Os usuários
podem praticar futsal, basquete, handebol, ginástica,
ginástica rítmica, capoeira, percussão
e xadrez, entre outras atividades.
Um
capítulo especial nesta bela história é
o remo, que vem conquistando número crescente de praticantes
entre pessoas com deficiência. Desde 2005, a SMEL, por
meio do Programa Germinal MEL, desenvolve o projeto Remar
é Possível, que tem apoio da Confederação
Brasileira de Remo (CBR) e reúne jovens com idades
entre 14 e 20 anos com deficiências física, mental
ou auditiva. Enquanto não adquirem experiência
no esporte, eles praticam na sede de remo do Flamengo, na
Lagoa.
Outra
ação de inclusão mantida pela Prefeitura
é o Programa Esportivo para Portadores de Deficiência,
fruto de convênio entre Município, Ministério
da Defesa (Comando Militar do Leste) e o Instituto Benjamin
Constant. O programa conta hoje com 900 alunos, que contam
com atividades físicas e de lazer oferecidas em unidades
do Exército sediadas em Deodoro, São Cristóvão,
Urca, Campinho, Santa Cruz e Leme.
A
política da Prefeitura para pessoas com deficiência
está presente também nas escolas municipais,
com os Jogos Inclusivos. O evento, realizado parceria com
a Secretaria Municipal de Educação, reúne
todos os anos cerca de 7.000 alunos, na disputa de provas
de lançamento de pelota, arremesso de massa, salto
em distância, chute a gol, bola ao cesto, ziguezague
simples e com bola e cabo-de-guerra.
Os
interessados em participar das atividades esportivas
de inclusão oferecidas pela SMEL devem se dirigir
às sedes dos equipamentos do Município,
com carteira de identidade ou certidão de nascimento,
atestado médico e foto 3x4. Confira os endereços:
Vila Olímpica da Maré: Avenida Tancredo
Neves, s/nº – Complexo da Maré;
Vila Olímpica da Gamboa: Rua União s/nº
- Gamboa;
Vila Olímpica Carlos Castilho – Estrada do
Itararé, 389 - Ramos (Complexo do Alemão);
Vila Olímpica Clara Nunes: Rua Pedro Jório,
s/nº - Acari;
Vila Olímpica Oscar Schmidt: Rua das Palmeiras
Imperiais, s/nº - Santa Cruz;
Vila Olímpica Mestre André: Rua Marechal
Falcão Frota, s/nº - Padre Miguel;
Vila Olímpica Ary Carvalho – Rua Paulino
do Sacramento, s/nº - Vila Kennedy;
Greip da Penha: Rua Santa Ingrácia, 440 –
Penha;
Centro Esportivo Miécimo da Silva: Rua Olinda Ellis,
470 – Campo Grande;
Cidade das Crianças Leonel Brizola: Rodovia Presidente
Dutra, Km 1 – Santa Cruz.
CIAD Mestre Candeia: Avenida Presidente Vargas, 1997 -
3º andar (em frente à Central do Brasil).
Felipe, estrela do atletismo, venceu a deficiência
de visão
Nos
Jogos Parapan-Americanos, uma presença muito
especial será a do carioca Felipe de Souza Gomes,
de 21 anos. Morador de Bonsucesso, onde vive com a família,
ele é uma das esperanças do Brasil no
atletismo, modalidade que escolheu ainda pequeno, depois
de superar os momentos difíceis de uma toxoplasmose,
seguida de glaucoma e catarata congênita que o
deixaram cego. Mas não impediram que se tornasse
um corredor.
“É
a minha primeira competição em casa, meu
primeiro Parapan, e espero superar meu último
tempo”, diz Felipe, com determinação.
No Mundial de Atletismo, realizado na Holanda, em setembro
de 2006, ele obteve o terceiro melhor tempo entre competidores
das Américas. “Agora, vou brigar por uma
medalha”, anuncia. Para atingir seu objetivo,
treina com afinco na pista da Vila Olímpica Mestre
André, em Padre Miguel.
Felipe
descobriu que seu caminho era o atletismo no Instituto
Benjamin Constant, onde jogava futsal e gol bol (futebol
para cegos). Os companheiros de equipe não conseguiam
superá-lo na velocidade e o convenceram a tentar
o atletismo. Ele treinou e, sem grandes pretensões,
foi disputar um campeonato regional em São Paulo.
Resultado: medalha de bronze nos 100 metros e de prata
no revezamento 4x100. Desde então, não
parou mais de correr.
Na
caminhada rumo ao pódio, Felipe conta com o apoio
e a dedicação de seu treinador e guia,
Fábio Dias, que o acompanha nas provas de 100
e 200 metros e no revezamento 4x100, preso ao atleta
por uma guia no pulso. “Ele está ansioso,
pois é a primeira vez em que compete no Brasil,
com a torcida de olho. Mas tem potencial para chegar
às finais e conquistar medalha”, avalia
o técnico.
Até
8 de agosto, Felipe estará em São Paulo,
disputando o Mundial de Cegos nos estilos 100 e 200
metros e no revezamento 4x100. Quando voltar, sua atenção
estará concentrada nos Jogos Parapan-Americanos,
que considera a grande oportunidade de mostrar como
um deficiente pode vencer não só no esporte,
mas também na vida.
“Limitações
todos têm, deficientes ou não. Mas é
tentando superar essas limitações que
vencemos nossos obstáculos”, ensina.
Texto:
Flávia
David (SECS) e Fábio Fernandes (estagiário
da SECS)
Fotos:
Jaime
Silva (SECS)
Arquivo
da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer