Cultura

 
Lonas Culturais: Arte da periferia na vanguarda da cultura

As oito Lonas Culturais da Prefeitura têm cumprido, desde sua criação, em 1993, o compromisso de promover a inclusão social dos moradores das zona Norte e Oeste. Apresentações de música, teatro, dança e poesia a preços populares, além de cursos e oficinas gratuitas, estimulam a expressão artística de crianças, jovens, adultos e idosos que, em muitos casos, nunca tinham entrado em uma casa de espetáculos. 

Lona da Ilha
Lona Cultural da Ilha do Governador
O mês de setembro marca o ingresso de mais duas Lonas na rede mantida pela Secretaria Municipal das Culturas. Com um encontro de chorinho reunindo os grupos Nó em Pingo D’Água e Época de Ouro, foi inaugurada no dia 18 a Lona Cultural Municipal Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá. No dia 24, às 18h30, a Lona Cultural Municipal Renato Russo, na Ilha do Governador, entrou em atividade, com espetáculo sobre a vida de Renato Russo encenado pelo ator Bruce Gomlevsky.


Lona de Jacarepaguá
Lona Cultural de Jacarepaguá
Os espaços, identificados pela tradicional lona verde e branca, dispõem de arquibancada com capacidade para cerca de 400 pessoas, área administrativa e de apoio - oficinas e lanchonete – e área do entorno cercada. A Lona Cultural da Ilha do Governador está instalada na Praça Manuel Bandeira, maior área de lazer do bairro, e a de Jacarepaguá, na Praça Geraldo Simonard (Praça do Barro Vermelho), no Pechincha.


Celeiro de artistas

A descentralização da produção artística tornou as Lonas Culturais poderoso incentivo ao surgimento de artistas nos bairros de periferia. Jovens cantores, atores e dançarinos têm encontrado nas diversas formas de arte a oportunidade para seguir um caminho profissional.

A cantora Manu, 22 anos, é um exemplo. Lançada na Lona Hermeto Pascoal, em Bangu, no ano de 2004 fez o primeiro show de sua carreira, o Aquarela Musical I. No ano seguinte, ela proporcionou a maior bilheteria da história do espaço com o Aquarela Musical III, assistido por mil pessoas. Logo depois, descoberta pelo compositor João Roberto Kelly, cantou em seu show no Memórias do Rio, na Lapa.

Com repertório voltado para a música popular brasileira, Manu é uma carioca apaixonada pelas Lonas Culturais. “A Lona traz a cultura para o povo que está distante do centro da cidade”, resume a cantora. No ano passado, ela recebeu duas homenagens da Prefeitura do Rio: Expressão Cultural de 2006 e destaque no Dia Internacional da Mulher.

Ainda menino, Fabrício Soleker, hoje com 22 anos, decidiu qual seria sua profissão. Em 1993, ele foi um dos primeiros alunos inscritos nas aulas de teatro da então recém-inaugurada Lona Elza Osborne, em Campo Grande. E não parou mais. Em 2003, concluiu o curso profissionalizante de ator da Casa de Artes de Laranjeiras (CAL). Fabrício participou da oficina de atores da TV Globo e atualmente está em cartaz com a peça A Ratoeira, de Agatha Christie, no Teatro Shopping Frei Caneca, em São Paulo. “A Lona Cultural me incentivou a estudar e me impulsionou para a carreira de ator”, afirma.

Descoberta de vocações

Lona Hermeto Pascoal
Foi nas aulas de expressão corporal da Lona Cultural Terra, em Guadalupe, que Milton Filho, 26 anos, começou a realizar o sonho da carreira de dançarino. “A partir daí muita coisa aconteceu na minha vida”, conta. Em 2004, figurou no filme Noel - Poeta da Vila. Teve nova participação no cinema, em  Ônibus 174,  e já garantiu presença, no final do ano, no espetáculo de dança Almas Negras, na França.

José Américo, 19 anos, é outro jovem da Zona Norte que começou a desenvolver seu talento ainda criança. Quando começou a freqüentar, aos 9 anos, a Lona João Bosco, em Vista Alegre, iniciou a caminhada que o tornaria diretor de espetáculos teatrais: “A Lona é um local de acolhimento daqueles que não têm oportunidade de conviver com a cultura. Hoje dirijo várias peças”, diz. José também estudou dança com Carlota Portela e teatro com Miguel Falabella.

Alberto de Avis é professor de artes cênicas na Lona Terra, em Guadalupe.
Lá, aplica o que aprendeu na faculdade dando aulas de teatro de bonecos e desenho artístico. “A Lona me dá visibilidade no cenário artístico. Estou inserido no mercado de trabalho. Já participei de uma série no Canal Futura e trabalhei como jurado no carnaval do Rio”, conta Alberto.

As oficinas de arte da Lona Herbert Viana têm transformado a vida de crianças moradoras das comunidades do Complexo da Maré. Ian Roberto, 12 anos, participa da oficina de desenho. Desde então, não faltou mais às aulas no Ciep Vicente Mariano. O contato com a arte trouxe o desejo de seguir a carreira de arquiteto.

Jéssica Regina também tem 12 anos e é aluna da Escola Municipal Rui Barbosa. Ela freqüenta aulas de modelo e desenho, e também participa do Coral da Vila Olímpica da Maré. Passou a gostar de poesia, já desfilou para uma agência e pretende seguir a carreira de modelo. “Penso muito em ser uma estilista famosa e desfilar em Nova Iorque com meus próprios modelitos. Meus desenhos melhoraram bastante por causa da oficina”, orgulha-se Jéssica.

Atividades integram famílias

Na Lona Terra, a oficina de capoeira é um fator de integração da família Nunes, formada por Adão, Angélica e os filhos, André e Wagner, que vai às aulas acompanhado da namorada, Daniele. A atividade tem significado especial para cada um deles. Para o caçula André, 14 anos, representou melhora na coordenação motora e no aprendizado. A capoeira ajudou na cura dos problemas de coluna de Angélica. E Adão diz que aumentou a capacidade de fazer amigos.

Leda Cruz, 49 anos, é professora da oficina de dança de salão da Lona Carlos Zéfiro há cinco anos e muito querida na comunidade. Suas aulas reúnem alunos de 8 a 80 anos. Segundo Leda, a diferença de idade não impede a comunicação entre os integrantes da turma. “Dentro da Lona, todo o mundo fala a mesma linguagem”, afirma. Acreditando no potencial da arte como um instrumento de inclusão, Leda incentivou os netos Amanda e Douglas a participarem das oficinas.

Amanda, 12 anos, aprendeu dança de salão, capoeira e teatro. A menina, que  cursa a 7ª série na Escola Municipal Cyro Monteiro, agora faz aulas de jazz. “O teatro melhorou minha timidez. A capoeira e o jazz me ensinaram a ter mais equilíbrio e flexibilidade”, relata Amanda. Douglas, 7 anos, participa da oficina de teatro. “Eu melhorei bastante nos trabalhos em grupo”, diz.  

Os dois já participaram de novelas, filmes, minisséries e campanhas publicitárias. Amanda descreve a sensação que tem quando pisa um palco: “É muito divertido representar. Parece que estou vivendo uma outra realidade”.

A história de um projeto premiado

O Projeto Lonas Culturais, criado pelo secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira, em 1993, é uma ação de inclusão cultural que busca descentralizar a produção artística da cidade. Foi premiado pela União Européia, recebeu chancela da Unesco e conquistou o Prêmio Mercocidades.

A multiplicação do acesso à cultura, a formação de platéias e o estímulo de novos artistas são as principais razões do sucesso. Segundo Ricardo Macieira, o projeto representa um avanço na descentralização da produção cultural da cidade e acesso aos equipamentos urbanos de cultura: “As Lonas revelam que a cultura é um instrumento de transformação e desenvolvimento, revitalizando os espaços públicos, estimulando a convivência comunitária e despertando sentimentos de cidadania e pertencimento à cidade do Rio de Janeiro’’, afirma o secretário.

Lona Hermeto Pascoal
Lona Hermeto Pascoal
A primeira Lona Cultural foi inaugurada em Campo Grande, em 18 de maio de 1993, e recebeu o nome de Elza Osborne. Na seqüência, vieram os bairros de Bangu (Lona  Hermeto Pascoal  – 8 de março de 1997), Realengo (Lona Gilberto Gil – 30 de maio de 1998), Vista Alegre (Lona João Bosco – 14 de abril de 1999), Anchieta (Lona Carlos Zéfiro – 18 de agosto de 1999), Guadalupe (Lona Terra – 20 de dezembro de 2000), Santa Cruz (Lona Sandra de Sá  10 – de setembro de 2004) e Maré (Lona Herbert Vianna – 25 de maio de 2005).

A Prefeitura do Rio também já realizou a reforma das duas Lonas mais antigas – Campo Grande e Bangu –, para sustentar os projetos sociais desenvolvidos na área de cultura e preservar o patrimônio público. Nos dois espaços, também foi recuperado todo o entorno, como pintura de muros, reforço na iluminação e reconstrução de calçadas.

   
Texto: Caroline Ribeiro (Secretaria Municipal das Culturas)
Fotos: Eduardo Rocha e Meg Pinheiro(Secretaria Municipal das Culturas)

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