Cultura


Realizar intervenções para melhoria do espaço urbano, promovendo a valorização histórica, paisagística e cultural é uma das atribuições do Poder Público. Entre os projetos urbanísticos elaborados pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP) está o da Rua Riachuelo, que revitalizou uma referência histórica da Cidade do Rio de Janeiro.

Com um traçado de cerca de 1,5 km, que vai da Avenida Mem de Sá até a Rua Frei Caneca, a Rua Riachuelo foi aberta no final do século XVII, tendo recebido anteriormente outros nomes: Caminho da Bica e Caminho Mata-Cavalos. Em 1848, o logradouro foi oficializado como rua, passando a ser considerado área nobre da cidade por sua topografia privilegiada. Localizava-se em terreno alto e seco, enquanto a maioria das vias cariocas estava em solo alagado e cheio de pântanos. Ao longo dos anos, com o crescimento da cidade, a área sofreu processo de desgaste, que tornou necessária uma reformulação urgente para adequá-la às novas demandas.

De acordo com o diretor de Urbanismo do IPP, Antonio Correia, “a idéia de revitalização da Rua Riachuelo surgiu de um diagnóstico feito em 2002, durante as vistorias de rotina feitas por nossa equipe para observar as condições precárias do local”. Conhecendo as demandas daquela população, ressalta Correia, “os técnicos criaram um projeto especial de revitalização que proporcionou melhor qualidade de vida para os habitantes”.  As obras, iniciadas em janeiro de 2004, duraram quase dois anos, sendo concluídas no fim de 2005.

Arcos da Lapa (antes)
Arcos da Lapa (depois)

A Rua Riachuelo é uma das poucas do Centro que ainda mantêm o caráter residencial conjugado com um comércio estruturado. Correia enumerou alguns dos principais problemas da região: “As calçadas eram muito estreitas, fazendo com que os pedestres transitassem no meio da rua. Antes da obra não passava mais de uma pessoa em alguns de seus trechos”.  As calçadas, que antes tinham apenas 80cm - três palmos - foram alargadas, passando a ter de 1,5m a 3m. Por ser uma rua muito antiga, o alinhamento não tinha regularidade, com prédios muito ou pouco afastados do eixo do logradouro, criando bolsões de estacionamento irregular.

Além disso, continua o diretor de Urbanismo do IPP, “o estacionamento estava caótico, com filas duplas, o que gerava insegurança aos pedestres. Com o projeto, pudemos fazer uma reformulação completa”. As faixas de rolamento foram uniformizadas em sete metros, possibilitando a implantação de um novo esquema de tráfego para facilitar o escoamento do grande volume de veículos e pedestres.

Rua Riachuelo (antes)
Rua Riachuelo (depois)

Atualmente, circulam na Rua Riachuelo ônibus provenientes da Zona Norte com destino ao Centro e à Zona Sul, passando pelo Largo da Lapa e Passeio Público. Para organizar a distribuição dos veículos, foram criadas cerca de 30 vagas em novas baias de estacionamento ao longo da via. Também foram renovados os semáforos e a pintura de travessias oferecendo mais segurança aos transeuntes.  A iluminação foi modernizada, com substituição das antigas luzes de vapor de sódio, o que deu mais vida às construções. À noite, centenas de jovens se divertem nas mais variadas opções de lazer e entretenimento que vão dos bilhares aos bares e botequins da região.

Para suavizar o cinza das edificações e reduzir a poluição ambiental, a Rua Riachuelo ganhou 103 árvores em toda a extensão e um canteiro central com palmeiras imperiais próximo ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, ponto de encontro da comunidade portuguesa católica no Centro.

Rua Riachuelo (antes)
Rua Riachuelo (depois)

História

O Caminho da Bica, atual Rua Riachuelo, foi aberto em 1567 para ligar o Morro do Castelo, sede da administração da cidade do Rio de Janeiro, ao bairro de São Cristóvão. Esse primeiro nome foi dado devido a uma bica existente na rota que era percorrida pelos viajantes rumo às estradas que levavam ao interior de Minas Gerais. 

Em 1772, a bica foi substituída por um chafariz, que até hoje permanece em seu local original, próximo ao n.º 173 da Rua Riachuelo. Mas o caminho era tão tortuoso e cheio de barrancos e atoleiros, que acabava se tornando um sacrifício para os animais dos tropeiros. Por isso, passou a ser chamado de Caminho de Mata-Cavalos.

Rua Riachuelo (antes)
Rua Riachuelo (depois)

O atual nome surgiu em 1865, para homenagear a vitória do Brasil sobre o Paraguai na batalha do Riachuelo. Por ser então uma área nobre da cidade, a Rua Riachuelo foi mencionada em diversas obras de Machado de Assis, como Dom Casmurro, e abrigou residências de grandes personalidades do século passado, como Benjamim Constant, Andrade Figueira, General Manuel Luis Osório, Visconde de São Lourenço e, já no século XX, o cantor Francisco Alves, conhecido como o D. Rei da Voz. Ali aconteceu, em 1930, um famoso crime político: o assassinato do deputado João Suassuna, executado a tiros por um paraibano exaltado que o culpava pela morte de João Pessoa.

Famosas construções da Rua Riachuelo

Nº 75 - Capela do Menino Jesus: construída pelas irmãs Jacinta e Francisca, donas da chácara onde foi encontrada a bica.

Nº 91 - Clube dos Democráticos: fundado em 19 de janeiro de 1867, promove até hoje atividades sociais como bailes e apresentações de samba e choro.

Nº 114 - Antiga sede do Diário de Notícias: abrigou o tradicional periódico carioca nos anos 50 e 60 e, posteriormente, a Secretaria Municipal de Educação do Rio e a Procuradoria Geral da República.  Atualmente é sede do jornal Folha Dirigida.

Nº 303 - Casa do General Osório: prédio em estilo neoclássico, já migrando para o eclético, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Nº 354 e 356 - Casa de Francisco Alves, cantor do início do século XX: duas casas geminadas, com telha colonial antiga.

Nº 367 - Santuário Nossa Senhora de Fátima: fundado em 16 de junho de 1940 por Dom Orione, padre da Divina Providência.


Esquina das ruas Riachuelo e Inválidos - casa do Visconde de São Lourenço: uma das primeiras casas de três pavimentos erguidas na cidade, no século XVIII.

 

Texto:
Juliana Romar (SECS)
Denise Rodrigues (SECS)
Fotos:
Leandro Marins (SECS)
Arquivo IPP

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