Rio 2016

Escola Municipal treina jovens no atletismo para as Olimpíadas
“A gente tem aqui a nata do atletismo brasileiro”. Assim o professor de educação física, Paulo Servo, avalia os jovens atletas que são treinados por ele, diariamente, na Escola Municipal Silveira Sampaio, em Curicica, Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. O objetivo da maioria é competir em Jogos Olímpicos. E não falta muito para o sonho desses jovens se tornar realidade. Eles estão na expectativa do anúncio da cidade-sede, diretamente da Dinamarca, e estão confiantes na vitória do Rio de Janeiro.
Para Hellen da Costa Augusto, de 17 anos, que já participou de diversas competições e coleciona mais de 50 medalhas conquistadas na modalidade Lançamento do Martelo, o Rio de Janeiro é uma cidade favorita para a realização das competições.
- O Rio tem muitas condições de ganhar, pela campanha que foi feita, pelas belezas da nossa cidade e pelo legado do Pan 2007, que já mostrou uma boa experiência – afirmou Hellen, ressaltando o significado das Olimpíadas de 2016 para o Brasil.
- Ter as competições aqui vai significar o melhor desenvolvimento para os atletas que estão começando agora, para os que estão em treinamento, para termos mais motivação e recebermos mais incentivos. Os Jogos trazem uma inspiração a mais. Se a gente ganhar vai ser muito bom. E estar lá representando o Brasil, tendo a chance de ganhar, é pura felicidade! – disse a garota, que já sonha com uma medalha olímpica.
Mas Hellen é apenas uma das mais de 600 jovens que fazem parte do projeto “Lançar-se para o Futuro”, coordenado pelo treinador Paulo Servo. A iniciativa do professor de educação física aposentado surgiu em 1982, quando ainda estava na ativa e teve a idéia de tirar crianças e jovens da ociosidade, inserindo-os socialmente e aplicando educação e cidadania através da prática desportiva. De acordo com Paulo, “o futuro do jovem está na educação e na cidadania. E esporte é sinônimo de cidadão, trazendo ainda ‘de quebra’ a formação de atletas”. Atualmente, o projeto é considerado o melhor de iniciação esportiva no Brasil e é referência internacional. Paulo, que treina crianças a partir dos 11 anos de idade, afirma que “tem no projeto jovens que são considerados os melhores atletas do país”. Para ele, o Rio de Janeiro sediar as Olimpíadas de 2016 vai ser a chance de divulgar esses atletas e as atividades desportivas por todo o mundo.
- O mais importante de tudo é a gente dar oportunidade ao jovem, e fazer atividade desportiva. Não só o atletismo, mas tudo. As Olimpíadas no nosso país vai ser a chance de divulgar tudo isso – disse ele, destacando a necessidade de mais atenção do poder público. - Precisamos de uma política governamental em que todas as crianças tenham acesso à iniciação esportiva. A gente deveria criar muito mais centros de trabalho para dar oportunidades aos jovens do país. E com a chegada dos Jogos Olímpicos na cidade, isso vai acontecer – enfatizou o treinador que, empolgado, falou da esperança de ver alguns de seus atletas competindo em 2016.
- Eu acredito que, de acordo com o nosso trabalho, e com o que temos conquistado, chegaremos em 2016 com, no mínimo, seis atletas disputando as competições – disse Paulo, esbanjando orgulho.
E um desses atletas é o jovem Jackson César da Silva, 17 anos, especialista nos 200m rasos. Colecionador de diversos títulos e com mais de 42 medalhas, o rapaz é uma promessa para os Jogos Olímpicos. Ele, que já competiu na Colômbia e na Itália, corre atrás do sonho de ser um campeão olímpico e já se prepara para isso.
- Se Deus quiser, estarei nas Olimpíadas. Estou treinando pra isso, já pensando que até 2016 eu vou estar no auge, com 24 anos. E eu quero muito estar nas Olimpíadas, ainda mais aqui na minha cidade, com toda a minha família na torcida. A gente sabe que é muito difícil ganhar uma medalha em uma olimpíada. Os jamaicanos estão vindo aí, e eles têm bem mais estrutura de treino que a gente, mas vamos tentar fazer o melhor para representar bem o Brasil – vibrou Jackson, com brilho nos olhos.
- A Olimpíada aqui no Rio seria perfeita porque iria abrir muitas oportunidades para o esporte. Não só para o atletismo, mas para o handball, basquete, ciclismo, e muitas outras modalidades que, muitas vezes, as pessoas nem conhecem – alegou.
Com tamanho otimismo também está Francisco Dias do Nascimento, de 14 anos, habilidoso nas modalidades salto triplo, corrida com obstáculos e salto com vara.
- Eu acho que ter a competição aqui no Rio vai ser muito bom. Espero que a gente chegue lá. Meu sonho é estar lá e eu tenho certeza que vou conseguir. Esse é o meu objetivo. Até lá vou treinar cada dia mais e participar de outras competições, procurando sempre me sobressair – afirmou o menino que já compete há três anos e guarda 15 medalhas.
Muitos outros atletas que também treinam na Escola Municipal Silveira Sampaio serão as estrelas em 2016. A jovem Bárbara Leôncio, recordista mundial nos 200m, é uma delas. Grande promessa para os Jogos, ela está acompanhando a delegação brasileira na Dinamarca e será uma das atletas que fará o encerramento da apresentação do projeto brasileiro ao Comitê Olímpico Internacional.
O projeto “Lançar-se para o futuro” tem como objetivo desenvolver crianças e jovens, inserindo-os no mundo esportivo e oferecendo uma melhor qualidade de vida. O projeto foi iniciado em 1982 pelo professor Paulo Servo. Com aproximadamente 50 alunos, as aulas de atletismo eram realizadas sempre aos sábados, com a participação dos pais, na Colônia Juliano Moreira, também em Jacarepaguá. No início, era apenas um projeto social voltado para ocupar o tempo das crianças após o horário escolar, mas com o tempo, foi tomando uma proporção que nem Paulo esperava.
Hoje, mais de 600 jovens participam das aulas de atletismo e treinam, cinco vezes por semana, na Escola Municipal Silveira Sampaio, em uma pista adaptada dentro da escola e em outra improvisada por Paulo na praça que fica em frente àquela instituição municipal. Desse total de alunos, mais de 200 já competem pela equipe da escola nas categorias pré-mirim, mirim, menor, juvenil, sub-23 e adulto. Muitos desses jovens já participaram de campeonatos nacionais e internacionais e carregam no peito o orgulho de ser brasileiro.
Com o apoio da organização não-governamental Instituto Kinder do Brasil, os atletas têm acesso à saúde e alimentação, recebendo assistência médica e nutricional diariamente. Além disso, através do Selo do Ministério dos Esportes, para conseguir ajuda través da Lei Rouanet de incentivo ao Esporte, o projeto já conseguiu este ano ajuda da empresa privada Oi.
Texto: Juliana Romar
Fotos: AF Rodrigues