O amor que virou jardim
O aterro da lagoa do Boqueirão deu origem à criação do Passeio Público, primeiro jardim público do Brasil, obra de Mestre Valentim (1779/83) e reformada por Glaziou em 1861. Na fétida e pestilenta lagoa, eram depositados os dejetos da cidade, trabalho feito pelos " tigres" - como em quase todas as praias, lagos e lagoas da época. A lagoa ainda dificultava o acesso à região da Glória, Catete e Flamengo, que acontecia precariamente pelo estreito caminho do Boqueirão, entre a lagoa e o morro das Mangueiras (depois de Santa Teresa), e que, posteriormente, se transformaria na rua do Passeio. Saudado como "o primeiro lugar entre os sítios de divertimento do Rio", por John Luccock, em 1820, tão nobres justificativas já bastariam para a execução da obra, que saneou e urbanizou a área. Entretanto, reza a lenda que o motivo real para a construção do jardim foi o amor platônico do Vice-Rei D. Luís de Vasconcelos por Suzana, uma moça pobre a quem este queria agradar, oferecendo-lhe, não um buquê de flores, mas, um jardim inteiro. O Chafariz dos Jacarés, também conhecido como Fonte dos Amores, talvez seja o testemunho deste idílio romântico, pois nele havia três garças e dois jacarés dos quais jorrava água, sendo completado o conjunto por um coqueiro também em ferro, referência de Valentim a Suzana, nossa Isolda, que, conta-se, morava nas redondezas da lagoa do Boqueirão, precisamente numa casinha vizinha a um coqueiro.

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