As belas da tarde cariocas
Houve época em que o "intenso tráfego carnal assumia o caráter regular de um negócio lícito, de absoluta normalidade", como nos revela Gilberto Amado em sua crônica intitulada 1910, no Centro. Passadas as horas do footing, matinal ou vespertino, na Avenida Central, a cidade era tomada pelas "mulheres da vida", em busca de fregueses. As ruas Senador Dantas, Sete de Setembro e o beco dos Carmelitas, via o trottoir incessante de raparigas e de deputados, senadores, desembargadores, capitalistas, comerciantes, homens mais sérios, jovens estudantes, enfim, gente de todos os matizes e classes sociais, em busca de prazer. Ninguém estranhava o intenso entra e sai de figuras representativas da elite política e social carioca nas casas onde aconteciam os encontros. Esses tanto podiam ser nos sobrados dessas ruas centrais, para os menos abastados ou mais apressados (notadamente no largo do Rossio, no lado da rua do Espírito Santo, que era local de prostituição, na praça Tiradentes e na rua do Lavradio), como nas chamadas "pensões de mulheres", de propriedade de Susana Castera (Tina Tatti), Janine e Eudóxia (nas ruas Santo Amaro e Benjamin Constant, na Glória), para aqueles que podiam pagar por mais discrição. Mas, o peculiar era a mistura cosmopolita entre o status quo e o basfond. As cortesãs cariocas, fossem elas polacas, croatas, francesas ou negras e caboclas da terra, estavam no centro da vida da Muito Leal e Heróica Cidade, até serem degredadas para a zona de meretrício do Mangue, em meados dos anos 1920.

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