GETULIO VARGAS, MITO E TRAJETÓRIA POLÍTICA
MARIA CELINA D'ARAUJO


EXTRAÍDO DO LIVRO: D’ARAUJO, MARIA CELINA. A ERA VARGAS, SÃO PAULO: MODERNA, 2004.

Os mitos são tão antigos quanto as sociedades humanas e costumam aparecer com mais intensidade em momentos de mudanças ou de ruptura social. Eles nos remetem ao mundo da criação, da fertilidade, do cosmo, do amor, da sabedoria. É sempre difícil de identificar suas origens, contudo não são pura mentira, invencionice e não surgem do nada. São produto de uma circunstância histórica e acabam atuando sobre os destinos da sociedade que os criou.
Os mitos povoam a mente humana, ajudam a identificar o “bem” e o “mal”, festejam sentimentos, astros ou animais, mostram as ambiguidades humanas, o desejo de força e poder, as paixões, as fraquezas, as virtudes etc. Normalmente, versam sobre rupturas, situações-limite como nascimento e morte, infância e puberdade, semeadura e colheita, e assim por diante. Funcionam, assim, como um ordenamento para situações que mudam, que se rompem e são substituídas por estruturas diferentes.
Os mitos podem também referir-se ao mundo da política e inspirar ordem, paz, luta, identidade nacional, progresso, grandeza, pertencimento... É importante, contudo, observar que o aparecimento do mito político só foi possível a partir do momento em que a política foi considerada uma atividade central para a organização das sociedades e a realização dos desejos e interesses dos homens.
Em sua expressão atual, o conceito de mito político foi uma criação do século XX, surge no contexto das críticas à liberal-democracia e à democracia de massas e teve no nazismo sua evidência maior. Neste caso, o mito foi construído a partir do “sangue puro” da “raça ariana”. Em nome dele foram cometidas as atrocidades que conhecemos e que tinham por objetivo criar uma Alemanha poderosa, dominadora e superior aos demais países.
No Brasil, poucas personalidades foram elevadas à categoria de mito político. Entre elas Tiradentes, o herói nacional, foi o mais expressivo, mormente porque, além de representar a independência, a liberdade e a pátria, foi transformado no mártir cujos traços fisionômicos lembravam a própria imagem de Cristo. Ao lado de Tiradentes, a figura política que mais povoou o imaginário popular foi Getúlio Vargas. Ambos têm em comum a morte em nome de um ideal: o primeiro, assassinado pelas autoridades portuguesas, e o segundo, por suas próprias mãos.
Várias pessoas estiveram a serviço da construção de uma imagem popular de Vargas que o identificasse com aspectos místicos e emotivos, entre elas, o jurista Francisco Campos. Para ele, o povo em geral, e em especial o brasileiro, não era provido de qualidades para o exercício da democracia. O mito político era, para esse mesmo autor, uma maneira eficaz de dar às massas populares um sentimento de participação, ordem política, identificação. Adorando e reverenciando o chefe, elas teriam o sentimento de que eram parte daquela sociedade. O mito deveria substituir as liberdades políticas, pois para Francisco Campos o mais importante era ressaltar as qualidades políticas, a personalidade, os dons morais do chefe. O Estado moderno dependia, segundo ele, de um poder central forte e de uma liderança capaz de conter o impulso das massas. Em suas palavras: “O regime político das massas é a ditadura”.
O que se passou no Brasil não destoava do que vinha ocorrendo pelo mundo, especialmente na Europa, onde o nazi-fascismo e o comunismo fundamentaram seu poder no culto à personalidade do chefe. Ou seja, os chefes de Estado deviam ser idolatrados como heróis, chefes superiores, “guias” para seus povos. Stalin, na ex-União Soviética, e Hitler, na Alemanha, foram exemplos de ditaduras violentas que usaram da doutrinação para domesticar as massas, inspirar-lhes orgulho e medo e silenciá-las.
Observe-se, entretanto, que nem todos os ditadores viraram mito nem todos os mitos políticos eram ditadores. E mais, líderes como Stalin e Hitler, o primeiro sustentando a “emancipação do proletariado”, o segundo, a “pureza da raça” acabaram renegados por seu povo como encarnação do arbítrio e do abuso de poder. Ditadores como Getúlio Vargas mantiveram-se populares. Neste caso, o mito criado durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945) sobreviveu ao passar dos anos e adaptou-se ao momento democrático. Em outras palavras, o mito de Vargas tornou-se, com o tempo, independente do regime que o criou.
Como todos os mitos políticos, Vargas não surgiu do vazio. Vargas foi, ou é ainda, o mito que representava o Estado nacional organizado, a legislação trabalhista, a soberania, o nacionalismo, a brasilidade, a defesa dos humildes. Era o “pai dos pobres” e o chefe com qualidades excepcionais. Como se deu esta criação? Isso só pode ser explicado pelo longo e sofisticado processo de propaganda e pelas muitas providências tomadas pelo poder centralizador e autoritário do Estado Novo.
O mito Vargas começou a ser construído pelo Estado Novo quando foi montada uma ampla rede de censura e propaganda. O DIP, órgão que se encarregava dessas tarefas, dedicou-se com afinco a promover a imagem do ditador. Eram produzidos filmes mostrando, de forma heróica, a obra e a vida de Getúlio Vargas, as inaugurações que fazia e as homenagens que recebia. Esses filmes eram exibidos nos cinemas e nas escolas. Várias festividades foram criadas e constituíam ocasiões especiais em que o presidente se dirigia às massas e era por elas saudado. Exemplos disso eram as festividades do Dia do Índio e do aniversário do presidente (19 de abril), do Dia do Trabalho (1º de maio), do Dia da Raça (10 de junho) e do Dia da Pátria (7 de setembro).
Nessas datas costumava haver, normalmente em estádios de futebol, grandes desfiles de crianças e jovens, uniformizados e devidamente treinados para que a parada fosse uma demonstração de grandiosidade da Pátria e de seu chefe. Retratos de Vargas eram distribuídos entre os que desfilavam e por eles carregados de modo que ele fosse a imagem mais presente na cerimônia. As músicas evocavam também a liderança do chefe e o patriotismo do povo, e tudo era preparado para que a beleza estética das cores, dos movimentos, das imagens fosse também grandiosa.
Crianças e jovens foram o alvo privilegiado da propaganda estadonovista na construção da imagem popular de Vargas. Por encomenda do governo, ou mesmo espontaneamente, foi surgindo uma grande quantidade de livros, muitos deles voltados para o público infantil. Contava-se, de forma épica e idealizada, a vida de Getúlio Vargas de modo a demonstrar que seria, desde menino, dotado de sentimentos nobres e moralmente superiores aos demais cidadãos. Ressaltava-se que já nascera destinado a defender a justiça, os humildes e os trabalhadores, que era um gênio nato nas letras e na matemática, um cavaleiro e um lutador ao lado dos injustiçados. A exemplo da vida dos santos, a de Getúlio também era narrada de maneira a marcar que era um predestinado para a defesa da nacionalidade e do Estado.
Livros como Getúlio Vargas para crianças e História de um menino de São Borja mostravam uma ideia pejorativa das atividades políticas democráticas e a “coragem” de Getúlio em destruí-las quando se transformou em ditador. A ditadura, que silenciava a todos, era apresentada como obra do gênio para proteger seu povo, e os que a ela se opunham eram tratados como inimigos da nação.
Além da propaganda oficial, registrada em documentos escritos e audiovisuais, foram surgindo aos poucos manifestações da cultura popular que evidenciavam aqueles sentimentos de exaltação a Vargas e ao povo brasileiro. É possível, por exemplo, encontrar um amplo conjunto de músicas que enaltecem a figura de Vargas. A literatura de cordel foi abundante nesse sentido.
No imaginário popular, predominou a imagem de um chefe protetor, qualidade indicada como superior, ou até mesmo independente, de suas tendências e de sua trajetória política. De certa forma, o mito Vargas teria cumprido o papel sonhado por seus mentores: tornou-se uma forma simbólica de comunicação entre o líder e seus liderados, uma maneira de relacionamento entre a massa e o chefe de governo, uma especial modalidade de patriotismo e de obediência política.

Getulio Vargas, Carta Testamento de 1954, versão veiculada pela imprensa imediatamente após sua morte.

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci [a de 1930]. Tive de renunciar [em 1945]. Voltei ao governo [em 1951] nos braços do povo (...) Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota do meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

Anos mais tarde a família divulgava outra versão da carta, escrita à mão por Getulio em tom mais simples e direto.

Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte.
Levo o pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro, e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.
A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos, numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.
Acrescente-se a fraqueza de amigos que não me defenderam nas posições que ocupavam, à felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras de mercês e à insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país, contra a minha pessoa.
Se a simples renúncia ao posto a que fui levado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranquilo no chão da pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para com mais fúria perseguirem-me e humilharem-me. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não dos crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes. Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue dum inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.
Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua amizade.
A resposta do povo virá mais tarde...


Cronologia
Getúlio Vargas, 1882-1954

1882

· Vargas nasceu em São Borja, cidade do estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, fronteira com a Argentina, proveniente de uma família de políticos e estancieiros locais. (19/4)

1907

· Depois de abandonar a carreira militar, formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de Porto Alegre, na capital de seu estado natal, tendo sido o orador da turma.

1908

· Nomeado segundo promotor público do Tribunal de Porto Alegre.

1909

· Eleito à Assembleia dos Representantes do Rio Grande do Sul. Reeleito em 1913, renunciou ao mandato por discordâncias com a política local. Foi reeleito em 1917 e em 1921.

1911

· Casou-se com Darci Lima Sarmanho, com quem teria cinco filhos: Lutero, Jandira, Alzira, Manuel Antônio e Getúlio.


1922

· Eleito à Câmara Federal em outubro. Em novembro, foi designado presidente da Comissão de Constituição e Poderes. Foi reeleito deputado federal em 1924, quando assumiu a liderança da bancada de seu partido na Câmara, o Partido Republicano Rio-Grandense. Em 1925, integrou a Comissão de Reforma da Constituição, e no ano seguinte, a Comissão de Finanças da Câmara.

1926

· Designado ministro da Fazenda do presidente Washington Luís. (15/11)

1928

· Assumiu o governo do Rio Grande do Sul. (25/1)

1929

· Criada a Aliança Liberal, coligação de políticos e militares de todo o país, sob a liderança dos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A Aliança opunha-se ao encaminhamento dado pelo presidente Washington Luís à sucessão presidencial. Impondo o paulista Júlio Prestes como seu candidato, Washington Luís rompia com o pacto oligárguico que sustentara a República, desde o início do século, cindia as oligarquias e abria espaço para o movimento revolucionário. (agosto)

· A Aliança Liberal aprovou em convenção a chapa Getúlio Vargas - João Pessoa, este último governador da Paraíba.(20/9)

1930
· Eleição de Júlio Prestes, candidato situacionista, para a presidência da República. (1/3)

· João Pessoa, companheiro político de Vargas, foi assassinado em Recife, capital de Pernambuco. A morte teve causa passional mas foi apropriada politicamente pelos conspiradores da Aliança Liberal. Criou-se uma atmosfera favorável à revolução. (26/7)

· Início da Revolução de 1930, movimento político e militar com adesão popular que resultou na deposição do presidente Washington Luís e na ascensão de Vargas à presidência. Levantes militares ocorreram em diversos estados do país. Tropas partiram do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro. (3/10):

· Vargas divulgou um manifesto conclamando o povo gaúcho às armas. Cinquenta mil voluntários alistaram-se nas tropas revolucionárias. (4/10)

· Militares dissidentes, liderados pelo general Tasso Fragoso, exigiram a renúncia de Washington Luís, que acabou por aceitar sua deposição. (24/10)

· Vargas tomou posse como chefe do Governo Provisório, após o país ter sido governado durante dez dias por uma junta militar. (3/11)

· Concedida anistia aos civis e militares participantes dos movimentos revolucionários ocorridos no Brasil a partir de 1922. (8/11)

· Assinado decreto legalizando o Governo Provisório, dando-lhe plenos poderes e dissolvendo o Congresso Nacional, as assembleias estaduais e as câmaras municipais. (11/11)

· Criado o Tribunal Especial (11/11), para julgar irregularidades no governo anterior e demais fatores que pudessem comprometer a "obra de reconstrução revolucionária". O Tribunal Especial transformou-se em Junta de Sanções, que por sua vez seria substituída, em setembro de 1931, pela Comissão de Correição Administrativa, que findaria em janeiro de 1933.

· Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. (14/11)

1931

· Promulgada a Lei de Sindicalização, de inspiração corporativista, regularizando a sindicalização das classes patronal e operária. (19/3)

· Criado em maio o Conselho Nacional do Café (CNC), substituído em fevereiro de 1933 pelo Departamento Nacional do Café (DNC), que federalizava a política cafeeira. O café era o produto mais importante da economia brasileira.

· Fundado o Clube 3 de Outubro, que consolidou a influência dos "tenentes" (oficiais revolucionários) no Governo Provisório. Através desta organização, defendiam a adoção de medidas autoritárias, nacionalistas e trabalhistas. (fevereiro)

· Promulgado o Código dos Interventores, reforçando o controle do governo federal sobre os estados. O decreto vedava aos interventores contrair empréstimos sem prévia consulta ao Executivo e gastar mais de 10% da despesa ordinária com as polícias militares. (29/8)

1932

· Promulgado o novo Código Eleitoral, regulamentando as eleições em todo país, instituindo o voto secreto, o voto feminino e a Justiça Eleitoral. (24/2)

· Concretizado um funding-loan (empréstimo para reescalonamento da dívida externa), prática comum dos governos brasileiros após a Independência.

· Iniciou-se em São Paulo a Revolução Constitucionalista, pleiteando a redemocratização do país. (9/7)

· Fundada, pelo jornalista Plínio Salgado, a Ação Integralista Brasileira (AIB), núcleo fascista que defendia o Estado integral, autoritário, nacionalista e anticomunista.

· Fim da guerra civil com a assinatura de um armistício que confirmava a derrota dos paulistas. (2/10)

· Vargas suspendeu por três anos os direitos políticos dos líderes da Revolução Constitucionalista. (8/12)

1933

· Eleições para a Assembleia Nacional Constituinte. (3/5) Os regulamentos eleitorais estabeleciam dois tipos de representantes: os classistas, eleitos pelos sindicatos, e os representantes do povo, eleitos em cada estado pelo voto direto. A Constituinte começou a deliberar em 15 de novembro.

1934

· Lei de sindicalização criava um pluralismo sindical limitado. (12/7)

· Promulgada a nova Constituição da República. (16/7)

· Vargas foi eleito pela Assembleia (via indireta) para a presidência constitucional da República, terminando assim o período do Governo Provisório. (17/7)

1935

· Criada em março a Aliança Nacional Libertadora (ANL), primeiro movimento nacional de esquerda no Brasil.. No ano seguinte, Luís Carlos Prestes, líder comunista, foi escolhido para a presidência de honra.

· Sancionada a Lei de Segurança Nacional, definindo os crimes contra a ordem política e social, e que atingia, inicialmente, militantes e simpatizantes comunistas. (4/4)

· Vargas decretou a dissolução da ANL por seis meses, após manifesto de Prestes pedindo o fim do "governo odioso de Vargas". (13/7)

· "Intentona Comunista", insurreição deflagrada em novembro sob a direção do Partido Comunista, com levantes nas cidades nordestinas de Natal e Recife, e no Rio de Janeiro.

· Declarado o estado de sítio e depois o estado de guerra. Iniciou-se um período de franca perseguição política.

1937

· Após federalizar as milícias estaduais, Vargas dá um golpe de Estado dissolvendo o Congresso, outorgando nova Constituição e instituindo a ditadura do Estado Novo. (10/11)

1938

· Integralistas tentam golpe contra o governo invadindo a residência de Vargas. Dois dias depois, Vargas declarava que o putsch havia recebido "auxílio de fora", ou seja, da Alemanha. (11/5)

· Criado o Conselho Nacional de Petróleo.

· Criado o Departamento Administrativo de Serviço Público (DASP), órgão federal que objetivava a melhoria dos padrões administrativos na burocracia federal.

1939

· Lei de Sindicalização, fixando o sindicato único por categoria profissional. (5/7)

· Criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), porta-voz autorizado da ditadura, encarregado da censura aos meios de comunicação, da organização de homenagens ao presidente, manifestações cívicas e radiodifusão oficial. (27/12)

1940

· Anunciada a Lei do Salário Mínimo. (1/5)

· Instituído o imposto sindical, através do qual cada trabalhador descontava um dia de trabalho para financiar a estrutura sindical corporativa. (8/7)

· Criado o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), que organizou uma rede de refeitórios populares nas principais cidades do país.

1941

· Depois de negociações com a Alemanha e com os Estados Unidos, o Brasil conseguiu um empréstimo a longo prazo de US$ 20 milhões, concedido pelo Eximbank, destinado à construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, primeira no Brasil a utilizar o coque para a produção de aço.

· O governo brasileiro concedeu permissão para a instalação de bases militares norte-americanas no Nordeste e proibiu as companhias aéreas alemã e italiana, Condor e Lati, de operar no Brasil.

1942

· O Brasil adere aos Aliados (EUA, Inglaterra e URSS) na II Guerra Mundial, rompendo relações diplomáticas com Alemanha, Itália e Japão. Entre fevereiro de 1942 e março de 1943, 19 navios mercantes brasileiros foram bombardeados pela marinha alemã.

· O governo brasileiro reconheceu o "estado de guerra" contra a Alemanha e a Itália. (22/8)

· Criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), instituição destinada à formação e especialização de mão-de-obra industrial, ao nível de primeiro e segundo graus.

1943

· Editada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), compilação do conjunto de normas legais que regiam as relações entre empregados e empregadores. (1/5)

· Manifestações estudantis contra a ditadura são reprimidas pela polícia.

· Criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB), divisão militar que participou da guerra, na Itália. (9/8)

1944

· Brasil assina os acordos de Bretton Woods, que originaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Inter-americano de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).

1945

· Promulgada a Lei Constitucional n. 9, conhecida como Ato Adicional, que marcava as eleições para a presidência da República, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal para 2 de dezembro de 1945 e para maio de 1945 as eleições para as assembleias legislativas estaduais. (28/2)

· Fundada a União Democrática Nacional (UDN), partido formado pelos opositores ao Estado Novo. (7/4)

· Fundado o Partido Social Democrático (PSD), principal partido nacional no período de 1945 a 1965, (8/4) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), originado da estrutura sindical corporativa do Estado Novo. (15/5)

· Manifestações populares defendem a permanência de Vargas no poder, através do slogan "Queremos Getúlio". O movimento ficou conhecido como Queremismo.

· Promulgado decreto-lei antecipando para o dia 02 de dezembro as eleições estaduais marcadas para maio de 1946 (10/10). Crescem as denúncias de que Vargas pretendia formar bases estaduais para manipular as eleições e preparar uma estratégia continuísta.

· Temendo que Vargas desrespeitasse o calendário eleitoral e desse novo golpe para se manter no poder, os oposicionistas, liderados pelos generais do Exército Eurico Gaspar Dutra e Góis Monteiro, cercaram o Palácio Guanabara, residência do presidente. Vargas assinou sua renúncia formal. (29/10)

· Vargas atesta sua popularidade nas urnas, elegendo-se deputado federal em sete estados e senador em dois. Optou pelo cargo de senador pelo Rio Grande do Sul. O general Eurico Gaspar Dutra é eleito presidente da República. (2/12)

1946

· Posse de Eurico Gaspar Dutra na presidência da República. (31/1)

· Instalados os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. (2/2)

1947

· O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cancelou o registro do PCB (7/5). Meses depois, seriam cassados os mandatos de todos os parlamentares comunistas.

1949

· Vargas concedeu entrevista ao jornalista Samuel Wainer declarando-se candidato à presidência da República: "Sim, eu voltarei, não como líder político, mas como líder de massas". (3/3)

1950

· Lançamento da candidatura de Vargas, durante almoço em comemoração a seu aniversário, na casa de João Goulart. (19/4)

· Ademar de Barros, governador de São Paulo, deu adesão pública à candidatura de Vargas. (15/6)

· A candidatura de Vargas foi homologada em Convenção Nacional do PTB. (16/6)

· O nome de João Café Filho, deputado pelo Rio Grande do Norte, foi homologado pelo PTB para a vice-presidência na chapa de Vargas. (7/9)

· Eleição de Vargas para a presidência da República. (3/10)

1951

· Posse de Getúlio Vargas na presidência da República. (31/1)

· Criado o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq).

· Instalação da Comissão Mista Brasil-EUA, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento econômico através de projetos específicos para os setores básicos da economia nacional. (19/7)

· Fundado o jornal Última Hora, destinado a fazer a defesa do governo.

· Discurso de Vargas denunciando os expedientes utilizados pelas empresas estrangeiras para remeter seus lucros para o exterior. (31/12)

· Fundado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, depois BNDES), instituição financeira federal destinada ao fomento e ao desenvolvimento de setores básicos da economia brasileira. (20/6)

1952

· Assinado o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, mediante o qual o governo norte-americano se comprometia a fornecer equipamentos, materiais e serviços ao Brasil, que por seu turno, deveria fornecer materiais estratégicos, especialmente urânio e areias monazíticas. (15/03)

· Criado o Instituto Brasileiro do Café (IBC).

· O BIRD concedeu um empréstimo da ordem de US$ 37 milhões ao Brasil para financiamento de projetos de expansão hidrelétrica e reabilitação ferroviária preparados pela Comissão Mista.

1953

· Sancionada nova Lei de Segurança Nacional. (janeiro)

· Greve de trabalhadores em diversas cidades do país. (março)

· Sancionada a Lei n. 2.004, que criou a Petrobrás - Petróleo Brasileiro S.A. (3/10)

· Vargas volta a denunciar as remessas de lucros feitas pelas empresas estrangeiras. (21/12)

1954

· Manifesto dos Coronéis, documento redigido por um grupo de militares insatisfeitos com os patamares salariais do Exército, criticando os novos níveis de salário mínimo (aumento de 100%) propostos por João Goulart, ministro do Trabalho. (20/02)
· Aumento de 100% no salário mínimo. (1/5)
· Vargas compareceu ao Grande Prêmio Brasil disputado no Jóquei Clube do Rio de Janeiro, onde foi vaiado. (1/8)
· Atentado contra o jornalista Carlos Lacerda na rua Toneleros, em Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro. O major-aviador Rubens Florentino Vaz foi assassinado. Lacerda afirmou, na Tribuna da Imprensa, que o culpado era Vargas. (5/8)
· Nelson Raimundo de Sousa, motorista de táxi, afirmou ter usado seu carro para a fuga do autor do crime, o pistoleiro João Alcino do Nascimento. Informou que o crime fora encomendado por Climério Euribes de Almeida, membro da Guarda Pessoal de Getúlio Vargas. (9/8)
· Missa de Sétimo Dia pelo major Vaz. Manifestação popular contra Vargas e seu filho Lutero, cujos cartazes eleitorais foram rasgados. (11/8)
· Vargas inaugurou a usina siderúrgica da Mannesman, em Minas Gerais, onde declarou que resistiria às investidas contra seu governo. (12/8)
· Afonso Arinos, líder da UDN e da oposição parlamentar, reiterou apelo para que Vargas renunciasse. (13/8)
· Gregório Fortunato, chefe da Guarda Pessoal e mandante do crime da Toneleros, foi detido no Catete e levado para a Base Aérea do Galeão. (17/8)
· Café Filho, vice-presidente da República, rompeu com Vargas em discurso no Senado. (23/8)
· Vargas concordou em licenciar-se do governo por noventa dias. Pouco depois foi informado de que o ministro da Guerra, Zenóbio da Costa, pedira seu afastamento definitivo. Suicidou-se em seus aposentos, no Palácio do Catete. (24/08)
· Em meio a grandes manifestações populares, o corpo de Vargas foi enviado para São Borja, onde foi sepultado. (25/8)