AGOSTO E
A CRISE DE AGOSTO DE 1954 OU COMO A TELEVISÃO SE TORNA HISTORIADORA
MÔNICA ALMEIDA KORNIS
Há
exatamente duas décadas, a Rede Globo de Televisão vem recriando
aspectos e momentos históricos importantes da vida nacional brasileira
em sua programação de minisséries. Ponto máximo
de uma crise política acirrada ao longo do mês de agosto de 1954,
o suicídio do ex-presidente Getulio Vargas foi sem dúvida um dos
fatos mais marcantes da nossa história política, tendo sido contemplado
pela minissérie Agosto, apresentada por aquela emissora entre agosto
e setembro de 1993. Resultado da adaptação do romance do mesmo
nome, best-seller de vendas do início da década de 1990, de autoria
do escritor Rubem Fonseca, Agosto apresenta uma trama que mescla ficção
e fatos reais, reconstruindo um conjunto de episódios transcorridos nos
primeiros 24 dias do mês de agosto de 1954.
Sabemos estar diante de uma ficção, de uma reconstrução
de um importante momento histórico, mas como analisar os fatos aqui representados?
De pouco adianta discutir a autenticidade dos fatos históricos ali presentes,
pois estamos diante de um espetáculo televisivo. Por essa razão,
é fundamental refletirmos sobre a minissérie propriamente dita,
sua estética e sua construção narrativa. São esses
os elementos determinantes para que se examine como se dá a reconstrução
desses acontecimentos na ficção, consciente de que esse processo
se faz por intermédio de um conjunto de sons e imagens que devem ser
apreendidos em sua linguagem, posto que não se constituem como expressão
real e direta dos fatos tal como aconteceram. Somente a análise da forma
que esse conteúdo assume na minissérie nos permite entender como
a televisão pode cumprir uma função pedagógica,
isto é, dentro de que parâmetros a televisão “educa”,
afastando-a da condição de mero recurso – agradável
e glamouroso - para a transmissão do conhecimento histórico.