Nosso
propósito neste trabalho foi identificar, no contexto de uma escola,
o impacto causado pela programação da MultiRio, a partir
de conceitos teóricos adotados, principalmente, da teoria de mudanças
apresentada por Huberman (1973).
A metodologia empregada propiciou condições para a obtenção
e análise dos dados, já que permitiu ao observador penetrar
no cotidiano escolar, possibilitando flexibilidade para suscitar falas
espontâneas, interpretar comportamentos docentes, trocar informações
e perceber sentimentos diversos. O acompanhamento de alguns momentos pedagógicos
e situações informais dos professores deu oportunidade de
direcionar o olhar para a perspectiva dos docentes, numa visão
interna dos acontecimentos rotineiros. Essa visão facilitou a melhor
compreensão do universo da escola, esclarecendo os aspectos subjetivos
que perpassam as relações interpessoais.
O tratamento dos dados coletados, tabulação de respostas
do questionário, combinado com as informações presentes
no discurso docente, permitiu
elaborar um painel das condições em que as inovações
se processam naquela unidade escolar. O confronto entre as situações
cotidianas em que a inovação MultiRio se instalou na escola
e a teoria de mudanças estudada, apontou para distorções
no procedimento de implantação da inovação,
o que possivelmente levou ao impacto negativo da mesma.
Os resultados evidenciaram, principalmente, a importância e a qualidade
da inovação tecnológica para a educação.
Todavia, os dados também apontaram para a impossibilidade do uso
freqüente da inovação na escola em estudo, devido a
uma série de condições que inviabilizaram a implantação
da inovação, tais como: espaço físico inadequado,
má qualidade na transmissão da programação,
falta de sensibilização do corpo docente para o trabalho
a ser desenvolvido, o fato de o treinamento não ter se realizado
antes do início do período letivo, não avaliação
do curso dentro dos critérios da proposta Multieducação
e falta de adequação da estrutura física e administrativa
da escola para implantação da inovação, associando
a teoria à prática de sala de aula.
A escola a princípio deveria ser o lugar de descobertas, onde o
“novo” encontraria ressonância, experimentando e avançando
junto com a sociedade. A escola, porém, guarda e resguarda valores,
reage às mudanças de hábitos, à ruptura da
rotina e à obrigação de pensar diferente, ameaçando
antigos postulados. A inovação muitas das vezes soa como
sendo um desafio à verdade que há dentro de cada educador.
Reestruturar o pensamento e a prática pedagógica dos professores,
a partir de uma inovação imposta por políticas públicas,
é pretender romper com estruturas emocionais e de poder que residem
no comportamento individual, que espelha a identidade dos grupos envolvidos
no processo de mudança na escola. Isso significa desempenhar ações,
procedimentos, e novos papéis e posturas desempenhadas, o que interfere
nas relações interpessoais. |