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50 ANOS DA MORTE DE GETÚLIO VARGAS

Entrevista com a Professora Maria Inês Gurjão, no dia 18 de agosto de 2004, às 19h.

Formada pela PUC-Rio em História e em Comunicação Social.
Mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio, com a dissertação "A tragédia brasileira narrada com muito bom humor - imagem, humor e política na imprensa carioca"
Professora aposentada de História do Colégio Pedro II
Professora do Departamento de Comunicação Social da Puc-Rio de Teoria da Comunicação, História da Imprensa no Brasil e Cultura Brasileira.

FRASES

“Acredito que esses traços que condicionaram o comportamento político de Vargas são válidos para compreendermos seu suicído”


"Só morto sairei do Catete"


“A sociedade que precisa sacralizar objetos materiais e/ou pessoas”


“Analisar a história de Vargas e de sua importância é pensar em sua contribuição positiva e em seus erros”

 

ENTREVISTA

1 - Como você definiria a personalidade de Vargas?

Sua origem sulista com certeza contribuiu para os traços de caudilho que se encontram na personalidade de Vargas. O caudilho é um 'tipo' especial, diferente de um ditador como Hitler, Stalin ou Franco. Precisa de mandar, de controlar, mas precisa também ser 'amado' e 'respeitado' pelas pessoas que o cercam. A ideologia fica em segundo plano, a liderança em primeiro. Acredito que esses traços que condicionaram o comportamento político de Vargas são válidos para compreendermos seu suicído. Ser novamente afastado do governo foi uma rejeição insuportável para a índole caudilhista que já avisara: "só morto sairei do Catete".


2 - Como se explica o mito Vargas?

O mito Vargas se explica como qualquer outro mito: de um lado, a sociedade que precisa sacralizar objetos materiais e/ou pessoas; de outro, conjunturas especiais que ajudam a transformá-los em mitos. No caso de Vargas, como no caso do herói trágico delineado no teatro grego, a morte foi um fator decisivo em sua mitificação.


3 - O quadro político internacional facilitou o golpe de 1937?

A meu ver, o golpe de 1937 já estava em gestação desde o golpe de 1930, por questões inerentes à própria estrutura sócio-econômica e política brasileira. No entanto, é inegável a influência da ascensão dos fascismos europeus e a reação da burguesia brasileira e internacional ao avanço dos movimentos sindicais e à consolidação do regime soviético. Assim, houve uma reação positiva ao golpe por parte das elites nacionais, o que facilitou a longa duração do regime.


4 - O Vargas do período de 50 se diferencia do Vargas do Estado Novo?

Houve grandes mudanças no Brasil e no mundo entre 1945 e 1950, apesar de ser um curto período de tempo. Assim, o presidente Vargas, eleito em 1950, jamais teria podido anular as conquistas democráticas e rasgar a carta constitucional de 1946. O que não mudou em Vargas, foi justamente seu temperamento e sua formação de caudilho, de modo que apesar de respeitar as instituições, não desmontou as redes de clientelismo que o cercava, atitude esta expressa na máxima "aos amigos tudo, aos inimigos a lei".

5 - Que forças políticas se opuseram ao modelo getulista de governar, em 1954?

Os democratas cristãos e a alta burguesia se uniram contra Vargas por motivos diferentes. Os primeiros contestaram ideologicamente o projeto getulista. Os segundos reagiram contra a política de favorecimento ao trabalhador e de concentração do capital nas mãos do Estado.


6 - Qual a importância de Vargas como objeto de estudo, nos dias atuais?

Por incrível que pareça, acredito que se sabe pouco sobre Vargas e sobre sua atuação na vida política brasileira. Há inclusive uma tendência a confundir as diferentes fases de seus governos. Acho da maior importância colocar as coisas em seus devidos lugares e, assim, analisar de forma crítica o verdadeiro papel deste homem na história do Brasil.
Por exemplo, é de capital importância refletir sobre a truculência do Estado Novo: sua intolerância para com a oposição, o controle da vida social em todas suas manifestações - inclusive as artes, a imprensa, a publicidade e o esporte, a construção de uma memória positiva sobre um dos mais conturbados períodos que a liberdade de pensamento e de expressão passaram em toda nossa história.
Sobre o período militar temos amargas críticas... Sobre Vargas restou um misto de admiração e de benevolência, pois o 'pai dos pobres' não pode ter sido um tirano. Cala-se sobre as prisões políticas, sobre as torturas, sobre as perseguições de intelectuais e artistas. Em boa hora temos o lançamento do filme OLGA que mostra de forma muito realista a participação direta do ditador na deportação de Olga Benário para a Alemanha nazista. Este é um caso, houve muitas outras arbitrariedades cometidas sob a chancela do chefe de estado.
Portanto, analisar a história de Vargas e de sua importância é pensar em sua contribuição positiva e em seus erros. Todas essas questões só podem ser equacionadas com base em opções éticas e ideológicas bem fundamentadas e bem explicitadas.

Bom, o resto fica para a nossa tarde de reflexão sobre Vargas vivo de agosto a "Agosto".

 

Confira o que Aconteceu no CREP sobre os 50 anos de morte de Getúlio Vargas.

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